O Poeta dos Jardins

As ruas ao redor, iluminadas e cheias de lojas, dão ao espaço um ar descontraído. A casa, lacrada pela prefeitura, é como uma mancha de tristeza em meio ao redemoinho de sacolas de compras, sorrisos, fofocas. Entre as ruas Oscar Freire e Peixoto Gomide, em um centro de compras de luxo, o local destoa em sua imundice. Moradores de rua se revezam em uma dança de invasão, a qual é seguida pela constante aparição da polícia. Entre estes, o que mais se destaca é um senhor, que talvez tenha cinqüenta, talvez noventa anos. Anda pela rua em frente a casa com sua longa barba branca, recitando poemas que ele mesmo inventa. Nas costas de seu casaco estão bordadas as palavras “Poeta dos Jardins”. Este, dizem os taxistas da região, expulsa todo e qualquer morador que tenta viver na casa por mais de uma semana.

As paredes cobertas de musgo e o chão coberto por potes de comida e papéis de embrulho dão uma cara de abandono, apesar do morador constante. A medida em que o dia dá lugar à noite, a aparência passa a ser de um lugar mal assombrado. As sombras projetadas pelas barras das janelas, a placa de alumínio que tampa parcialmente a porta de entrada, os arbustos que se espalham aleatoriamente pelo chão, tudo faz com que a casa não pareça um lugar agradável de se morar. Mas quando chega a manhã e o sol ilumina os cantos escuros e sujos, aquele passa a ser apenas mais um lugar semi-destruído da cidade de São Paulo. Com ou sem moradores, a casa é apenas mais uma e a sujeira se empilha, dia a dia, da mesma forma que ocorre em tantos outros lugares.

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